cinema sem cinema (os amantes regulares)



Ver cinema em casa é poder intervalar arbitrariamente, recuar e recuperar um pormenor, congelar uma imagem e capturar um momento. É poder gerir filmes longos. É poder dividir os 178 minutos destes Amantes Regulares (de Philippe Garrel, com Louis Garrel – cfr. Dans Paris) ao meio. De um lado, os planos estáticos estendidos por generosos minutos sobre os estudantes, as barricadas e os molotovs do Maio de 68 testemunhado por Garrel e feito tanto de idealismos e revoltas justíssimas como de mentes vazias e parasitas vivenciais. [pausa para cigarro] E, do outro, depois do filme cortado a eito, os amantes regulares, e derrotados tal como o viria a ser o próprio Maio de 68, propriamente ditos: François e Lillie.

"I think my film somehow resembles Stendhal’s novel, The Charterhouse of Parma , in which the two Romantic heroes occasionally leave their story by crossing history. No, I have a different dialectic: For me, history is the enemy of art. Usually when artists touch history, they are always prisoners of time, because every time is ruled by history. But it’s impossible to recreate history itself. Cinema is what we have learned to mistake for history, but cinema is only mise en scène. For instance, we think we teach students about the history of Napoleon Bonaparte, but what we really teach them is Abel Gance’s very romanticized movie about Napoleon. When we think about the revolution of 1917, we immediately think of Eisenstein’s Potemkin (1925). Even newsreels from World War II have turned out to be fiction, manufactured by directors after the war. I believe that cinema is an integral part of history itself, also in its symbolic function. Cinema is by now a part of our memory. It is an attempt to rebuild our imperfect memories. In that respect it can be fiction. I do not think art represents history, I think it is a part of it. Even if it’s fake and mythological sometimes. "


O realizador (francês), sobre o filme, numa curiosa entrevista (em inglês) aqui, onde relata, entre outras coisas como o filme foi e, segundo o próprio só poderia, financiado com dinheiro da "esquerda"...

2 komente:

cuscavel tha...

De estranhar ter sido só uma pausa para cigarro. É que, quanto a mim, o filme exige - e não é pela densidade - várias pausas. Ou uma: eterna. É entediante.

inf tha...

É longo e aqueles planos estáticos abundam ao longo do filme ou, pelo menos, naquela que eu defini como sendo a sua primeira parte. Daí que vê-lo em casa, já que assim o pude dividir a meu gosto, tenha sido uma boa opção e talvez me tenha salvo o filme. Gostei muito.

Ruas sem saída