A boa repulsa
David Cronenberg realizou a Mosca. Citação cinematográfica da Metamorfose de Kafka mas ainda mais nojento. Quando Geena Davis chega ao laboratório e Goldblum pavoneia a recém-adquirida natureza passeando pelo tecto, é possível evocar na perfeição a passagem da Metarmofose em que Gregor descobre que a sua deformidade lhe permite passear pelo tecto do quarto onde se viu forçado a esconder-se. Um filme nojento não é necessariamente mau. É um filme que, embora provoque um sentimento que se situa vulgarmente na categoria dos grosseiros, tendo o potencial para provocar repulsa, tem aí, enquanto exercício artistíco, a sua finalidade. As cicatrizes e ferros nas pernas de Patricia Arquette forçando a entrada num carro de luxo no "Crash" possuem a mesma qualidade repulsiva. Quando o personagem de Goldblum se vai desintegrando e deixando cair pedaços de orelha e dentes que colecciona como troféus da sua humanidade perdida, mesmo os estômagos mais insensíveis se ressentem. A repulsa nem sempre é má.
O bom caos
Jeff Goldblum tem um dom. O de imprimir a todas as banalidades em que se mete uma nota de credibilidade. Ainda que não tenha lido um único livro dito científico em toda a sua vida, tem uma expressão de credibilidade científica à mistura com uma irresístivel irreverência que o tornam ideal para encarnar o génio porreiraço. Simplisticamente, tem um ar inteligente. Qualquer coisa parecida com o cool geek dos Kings of Convenience. Facto é que as únicas cenas realmente suportáveis do Jurassic Park eram aquelas em que ele falava da teoria do caos e do efeito do bater das asas da borboleta em Pequim, e, em jeito de flirt, deixava as gotas de água escorregar pela mão da Laura Dern para lhe provar que elas tomariam sempre um sentido diferente mesmo que partindo do mesmo ponto. A imprevisibilidade como consequência das imperfeições. O caos nem sempre é mau.
David Cronenberg realizou a Mosca. Citação cinematográfica da Metamorfose de Kafka mas ainda mais nojento. Quando Geena Davis chega ao laboratório e Goldblum pavoneia a recém-adquirida natureza passeando pelo tecto, é possível evocar na perfeição a passagem da Metarmofose em que Gregor descobre que a sua deformidade lhe permite passear pelo tecto do quarto onde se viu forçado a esconder-se. Um filme nojento não é necessariamente mau. É um filme que, embora provoque um sentimento que se situa vulgarmente na categoria dos grosseiros, tendo o potencial para provocar repulsa, tem aí, enquanto exercício artistíco, a sua finalidade. As cicatrizes e ferros nas pernas de Patricia Arquette forçando a entrada num carro de luxo no "Crash" possuem a mesma qualidade repulsiva. Quando o personagem de Goldblum se vai desintegrando e deixando cair pedaços de orelha e dentes que colecciona como troféus da sua humanidade perdida, mesmo os estômagos mais insensíveis se ressentem. A repulsa nem sempre é má.
O bom caos
Jeff Goldblum tem um dom. O de imprimir a todas as banalidades em que se mete uma nota de credibilidade. Ainda que não tenha lido um único livro dito científico em toda a sua vida, tem uma expressão de credibilidade científica à mistura com uma irresístivel irreverência que o tornam ideal para encarnar o génio porreiraço. Simplisticamente, tem um ar inteligente. Qualquer coisa parecida com o cool geek dos Kings of Convenience. Facto é que as únicas cenas realmente suportáveis do Jurassic Park eram aquelas em que ele falava da teoria do caos e do efeito do bater das asas da borboleta em Pequim, e, em jeito de flirt, deixava as gotas de água escorregar pela mão da Laura Dern para lhe provar que elas tomariam sempre um sentido diferente mesmo que partindo do mesmo ponto. A imprevisibilidade como consequência das imperfeições. O caos nem sempre é mau.
A boa desobediência
Kafka pediu ao seu testamentário, pouco antes de morrer, que queimasse todos os seus manuscristos. Considerando que boa parte das suas obras são póstumas, beneficiou ele, e beneficiámos nós, da desobediência. A desobediência nem sempre é má.
Kafka pediu ao seu testamentário, pouco antes de morrer, que queimasse todos os seus manuscristos. Considerando que boa parte das suas obras são póstumas, beneficiou ele, e beneficiámos nós, da desobediência. A desobediência nem sempre é má.
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