Sem fim à vista

Fotografia de Hiroshi Sugimoto "Seascapes from Time Exposed"
The Whipping

The old woman across the way
is whipping the boy again
and shouting to the neighborhood
her goodness and his wrongs.

Wildly he crashes through elephant ears,
pleads in dusty zinnias,
while she in spite of crippling fat
pursues and corners him.

She strikes and strikes the shrilly circling
boy till the stick breaks
in her hand. His tears are rainy weather
to woundlike memories:

My head gripped in bony vise
of knees, the writhing struggle
to wrench free, the blows, the fear
worse than blows that hateful
Words could bring,
the face that I
no longer knew or loved . . .

Well, it is over now, it is over,
and the boy sobs in his room,
And the woman leans muttering against
a tree, exhausted, purged--
avenged in part for lifelong hidings
she has had to bear.


Robert Hayden (1913-1980) é um dos maiores poetas americanos do séc. XX. Já aqui deixei o belo e atormentado Soledad, declamado (e, de certa forma, explicado) pelo próprio. O poema "The whipping", em particular, lê-se entoando uma melodia de pancadas secas. A poesia de Hayden, ou não fosse este também um poeta profundamente ligado à música em geral e ao jazz em particular, soa sempre a qualquer coisa. Firme nos seus intentos e sublime na forma, ora provoca desprezo para com a mulher que espanca a criança, no que quase se ouve o pau que de tanto bater se parte (She strikes and strikes the shrill circling/boy till the stick breaks/in her hand), ora se desdobra em elegantes e complexas metáforas ("tears like rainy weather" e não tears like rain). Quando termina adivinhamos que a mulher, cansada que está e encostada à árvore, apenas intervalou no espancamento ("avenged in part"), mas tentamos adivinhar também o que quererá ele dizer com "lifelong hidings/she has had to bear". Talvez o próprio Hayden, já que o narrador se confunde ao longo do poema e ele parece discorrer sobre um acontecimento de infância, queira entender e perdoar. Apenas adivinhamos.
Deixa, contudo, a ideia essencial: a violência alimenta-se de si própria num ciclo interminável, transforma o agredido em agressor e o agredido em agressor novamente. Sem fim à vista.

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Ruas sem saída