E leu na nota número 10, a cento e vinte páginas do final do livro, que era curioso que o destino de uma figura histórica, citada pelo autor, se confundisse com aquele que era o destino de uma das personagens principais: a morte. Suspensa que estava nas elucubrações daquela que era a heroína indiscutível e, desde o início, a sua Afinidade Electiva, abandonou, revoltada com as indiscrições do tradutor e autor da nota número 10, o livro a pior sorte na prateleira. Alguém escreveu que o trabalho dos tradutores se assemelha ao das mulheres que fazem tapetes de Arraiolos que, cuidadosas, olham para o avesso do tapete e lhe descobrem as imperfeições que a parte visível não revela. A tradução será assim, coisa cuidada e atenta mesmo ao avesso por natureza sempre a salvo dos olhares. Ora, a cento e vinte páginas do final do livro quis o autor que a heroína ainda respirasse e suspirasse pelas suas afinidades electivas. O tradutor, extrapolando poderes, ceifou-a prematuramente. Se traduções há que são infelizes, aquelas que tiram a quem lê a esperança num final feliz, assim a negrito numa qualquer nota número 10, são simplesmente cruéis.
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