“Mil escolas de filosofia e ainda ninguém descobriu o segredo das ancas.” *

Há pessoas que não dançam em festas. Não conhecem o segredo das ancas. Aquele. O da dança. Não o outro. Não são a mesma coisa? Se não estiveres a dançar enquanto todos dançam, repararás, quando diante de um grupo de medianos e ocasionais dançarinos, que cada um se mexe a um ritmo diferente. Dificilmente o ritmo da música. Alguns procuram nos outros o ritmo, buscam um movimento que possam copiar sem acrobacias que lhes ponham em risco os membros e a face, ou tentam acompanhar, quando a pares, o parceiro que olha para o vazio. Olha-me nos olhos enquanto danças. Outros mexem-se daquela forma que dificilmente se assemelhará a qualquer movimento catalogável num tipo de dança, e ocupam o solidário lugar na pista reservado aos que apenas fingem dançar. Às vezes, ninguém dança, realmente.

Há pessoas que falam muito alto. Não querem ser ouvidas. Querem ser vistas. Se alguém quiser ser ouvido diz alguma coisa interessante, não fala alto. As pessoas que falam muito alto são sempre vistas. Se estiveres de costas, enquanto alguém fala muito alto, não atentas no que ela diz, procuras uma oportunidade, para, discretamente, virares a cabeça e veres quem fala assim, tão mais alto que os outros. Há pessoas que falam muito baixo. Não querem ser vistas.

*Gonçalo M. Tavares

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Ruas sem saída