A determinada altura do filme "as good as it gets" Jack Nicholson gaba a mala bem feita de vizinho gay que tem por passatempo detestar. Pode ser gay observa com admiração, e em evidente conflito com a sua homofobia militante, mas sabe fazer uma mala. As meias apresentavam-se dobradas, as t-shirts engomadas, os cintos cuidadosamente enrolados, os calções convivendo respeitosamente com outros calções, tudo num espaço rectangular onde reinava a harmonia. Sempre que tenho de fazer uma mala para mais de uma semana lembro-me da mala perfeita do Greg Kinnear. Fazer bem uma mala implica várias coisas. Desde logo, não levar coisas em excesso. E, claro, dobrar. Dobrar sempre. Categorizar e organizar sempre. Jamais arrumarei uma mala impecável, pela mesma razão que nunca terei os meus cds arrumados por ordem de género ou até alfabética, a minha secretária sem um único papel supérfluo, a minha mesa de cabeceira sem livros empilhados, ou o meu quarto sem jornais de há três dias. Não sou esse tipo de pessoa.
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